Um estudo publicado no ano passado, no American Journal of Kidney Diseases, o órgão oficial da National Kidney Foundation, sugere que os doentes com função renal reduzida têm um risco aumentado de mortalidade relacionada com cancro. Esta foi a principal conclusão de uma coorte australiana, com uma amostra de 3 654 indivíduos seguidos ao longo de um período de quase 13 anos.
Os resultados deste trabalho sugerem que a população com doença renal crónica (DRC), definida como uma taxa de filtração glomerular (TFG) < 60 ml/min, tem um risco potencialmente maior de mortalidade relacionada com cancro, em comparação aos indivíduos com função renal acima deste cut-off.
«Em primeira análise, as conclusões deste estudo parecem apoiar as recomendações para o rastreio precoce do cancro na população com DRC», comenta o Dr. José Vinhas, diretor do Serviço de Nefrologia do Centro Hospitalar de Setúbal/Hospital de São Bernardo. No entanto, este especialista refere que esta investigação tem importantes limitações que podem pôr em causa a sua validade: «O estudo seguiu uma coorte da comunidade e cruzou esta informação com a de um registo oncológico nacional da Austrália do qual retirou os dados sobre mortalidade associada a cancro (um total de 370 mortes). Contudo, a informação disponível no registo oncológico sobre a causa de morte era muito escassa, não permitindo estabelecer uma relação de causalidade. Esta é apenas uma das limitações do estudo que, nesta fase, ainda não prova nada, apenas sugere.»
Neste estudo, foram considerados apenas os valores basais de creatinina, uma referência que José Vinhas considera «pouco fidedigna», porque estes valores «podem oscilar ao longo do tempo». «A população foi classificada como tendo DRC quando a TFG basal era < 60 ml/min. Não foram analisados outros valores de creatinina, ou seja, não foram estimados outros valores da TFG para além do basal. Mas, atendendo à oscilação dos valores ao longo do tempo, esta fronteira conduz, provavelmente, a um excesso de diagnóstico de DRC, pondo em causa a validade do estudo».
Neste momento, «até que se prove a verdadeira relação entre DRC e mortalidade por cancro, é prematuro falar na utilidade do rastreio precoce de DRC como meio de alterar a mortalidade associada ao cancro»,
conclui José Vinhas
Revista Spnews nº 31 Sociedade Portuguesa Nefrologia
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