segunda-feira, 29 de setembro de 2014

HISTÓRIA DA DIÁLISE (PARTE 1) DAS EXPERIÊNCIAS CANINAS À MÁQUINA DE LAVAR


História da Diálise (Part 1)
Imagen : American Academy of Achievement


O primeiro rim artificial foi testado há 100 anos num cão. À altura a história da diálise ainda estava longe de ser generosa para os humanos. Em 1945 sobrevive a primeira paciente com insuficiência renal aguda, através de sessões de 11 horas de hemodiálise. “Em casos de insuficiência renal crónica não há indicação para tratamento pelo rim artificial”, escreveu nesse ano o pai desta técnica, o holandês Willem Kolff. Onde estamos hoje, depois da descoberta do cateter? Viajemos no tempo, com um olho nas máquinas e um rim nas técnicas, sentados ao lado dos experimentos e dos protagonistas da Diálise?

Se hoje o termo diálise já flui no linguajar corrente dos nossos familiares e amigos, se ouve algumas vezes em telejornais, se há um Portal da Diálise, convém lembrar que no final dos anos 1960 ainda era um mistério bem guardado. Na década anterior, a hemodiálise ainda era experimental, circunscrita a poucos hospitais e os resultados deixavam bastante a desejar.

Olhemos para a década da Beatlemania, da alegada ida do homem à Lua e da revolução dos costumes na Europa. O que estava a comunidade científica e médica a fazer pelos doentes com insuficiência renal? Em 1965 estavam apenas identificados na Europa 150 indivíduos com esta doença. Dito de outra forma: era este o tímido número de pessoas tratadas pela hemodiálise regular. Fora destas contas ficavam, porém, milhares que morreram sem o diagnóstico correto e sem tratamento. Um desconhecimento médico generalizado contribuíra também para a invisibilidade da doença renal. Hoje cerca de dois milhões de pacientes em todo o mundo encontram-se em processos de hemodiálise.


Celofane, uma máquina de lavar e um cérebro chamado Kolff

Ao ver um rapaz a morrer de falência renal lentamente, desesperançado, o também ainda jovem médico Kolff decide descruzar os braços e pôr mãos à obra. Estamos no final da década de 1930 num hospital universitário em Groningen, na Holanda. Willem dirige-se à biblioteca da universidade e começa a pesquisar sobre a remoção de toxinas do sangue. Eis que tropeça num artigo de 1913 sobre hemodiálise em cães sem rins e compromete-se a aplicar com sucesso o dialisador em humanos. Assinava o texto que o inspirou o farmacólogo norte-americano John Abel.



Vídeo da primeira diálise gravado - realizada a um cão, em 1915 - um filme mudo clássico. O cachorro sobreviveu!

É certo que o médico alemão Georg Haas já tinha dado um passo à frente do de Abel, no final dos anos 10 e durante os 20 do século passado, ao introduzir a o anticoagulante Heparina no processo da diálise, mas a segurança e a continuidade da hemodiálise em humanos ainda não tinham sido alcançadas.

Nem a ocupação Nazi da Holanda durante a 2ª Guerra Mundial demoveu Kolff – embora pudesse ter retardado o curso da história da diálise, já que os olhos dos alemães também estavam postos neste rapaz, em risco de vida por forjar documentos.

O jovem médico foi enviado para um hospital discreto do país dos diques e das tulipas para prosseguir as suas investigações no sentido de melhorar a qualidade de vida de pessoas com insuficiência renal. Com poucos recursos técnicos e tecnológicos, improvisou. Tripas para enchidos, garrafas de sumo de laranja, papel de celofane e uma máquina de lavar roupa serviram os intentos de Willem construir uma máquina para remover as toxinas do sangue.

Esta criação levou o nome de cilindro rotativo, considerado comummente a primeira máquina de diálise. Em suma: um tubo de 20 metros de comprimento de papel celofane – a servir de membrana dialisadora – envolto de um cilindro de madeira. Enquanto este cilindro girava num tanque abastecido de uma solução dialisante, impulsionado por um motor elétrico, o sangue do paciente era retirado através do tubo de celofane pela força da gravidade. As substâncias tóxicas diluíam-se através do tubo na solução.

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